Metade ou laranjas cheias ou laranjas cheias?

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Evelyn Carpenter

Rodrigo Batarce

Como nos filmes de Hollywood, que retratam um amor idealizado, o mito da metade melhor subscreve a ideia de casais que se encontram, se complementam e vivem felizes para sempre.

Mesmo assim, a crença na meia laranja permanece forte, daí a importância de quebrar este mito. Meia laranja ou laranja inteira? Desvendamo-lo abaixo com a ajuda de um profissional de psicoterapia.

Qual é o mito da cara-metade?

Ximena Muñoz Latuz

O mito da metade melhor alude a um conceito de relacionamento amoroso, no qual um parceiro não pode funcionar sem o outro para completá-lo Em outras palavras, o parceiro é visto como uma extensão do próprio corpo e é validado tanto individualmente quanto na relação.

Neste sentido, o imaginário da metade melhor não só põe em questão a capacidade de ser um sujeito autônomo, mas também reduz a outra pessoa ao status procurado ou à expectativa que se tem dele ou dela.

"Se um homem é inseguro, ele vai procurar uma mulher segura que tome decisões, porque ele não é capaz de tomá-las, então ele vai considerar esse parceiro como sua cara-metade porque, de alguma forma, ela preenche um vazio nele", explica o psicólogo Iván Salazar Aguayo1 .

E o mesmo vale para pessoas introvertidas que procuram parceiros sociáveis, pessoas ativas que procuram parceiros passivos ou pessoas agressivas que procuram parceiros com caráteres dóceis, diz o profissional: "Eles buscam uma compensação na polaridade do outro", acrescenta o treinador.

As consequências

Enquanto uma imagem romântica é desenhada em torno de encontrar a sua melhor metade, a verdade é que o conceito leva à crença irracional de que existe uma complementaridade perfeita. Mas não só não existe, como também invalida as pessoas que procuram a sua outra metade e as deixa numa condição de estagnação e/ou preguiça.

"O perigo está em acreditar que somos seres que em algum momento nos fechamos, deixamos de evoluir e nos justificamos dizendo 'eu sou assim e continuarei sendo assim toda a minha vida'. Acho que este é o grande risco de procurar uma pessoa que tenha o que eu não tenho", explica Iván Salazar, que acrescenta que o mito da metade melhor só reforça as nossas deficiências.

"Pessoas muito introvertidas, por exemplo, em vez de desenvolverem o seu lado mais sociável, vão procurar um parceiro extrovertido e usá-lo como uma espécie de porta-voz. E assim estarão sempre subordinadas à energia da outra pessoa, a fim de compensar o que não têm".

Em vez de se desafiarem a desenvolver o que lhes falta, são pessoas que ficam presas num ponto das suas vidas e assim se envolvem na relação.

Longo prazo

Seguindo este imaginário, o namoro ou casamento não será baseado no amor autêntico, mas naquelas características que preenchem um vazio.

Então e as relações duradouras, e pode o mito da melhor metade ser sustentado ao longo do tempo? Enquanto a busca por um parceiro que se encaixa e preenche as lacunas? todas as pessoas evoluem E é aqui que os casais entram em conflito, explica o psicólogo e o treinador.

Em pessoas muito inseguras, por exemplo, quando a própria vida se encarrega de lhes dar poder, neste caso a segurança, já não serão tão felizes com a sua relação, nem com um parceiro que toma todas as decisões: "Não serei mais aquele jovem que ficou deslumbrado com alguma característica do seu parceiro, porque essa característica do meu parceiro também eu começo a cultivá-la e, portanto, em vez de sercomplementos, nós começamos a entrar em conflito".

E, pelo contrário, "se eu sou uma pessoa muito segura, e tenho um companheiro que tem dificuldade em tomar decisões, quando ela começar a crescer e evoluir, terei que ser capaz de validá-la e readaptar a dinâmica do casal", explica Iván Salazar Aguayo, "Portanto, acredito que se passarmos da polaridade para a integração dos nossos aspectos pessoais internos, em ambos os sentidos, a relação será mais estável, e teremos uma relação melhor".cicatriza.

"A chave é que cada parceiro se desenvolva, se integre e peça cada vez menos por essa complementaridade, que pode ser em algum momento um pouco extrema ou mesmo insalubre", acrescenta o profissional.

A contraparte

Moisés Figueroa

Tudo isso deixa bem claro o porquê de é importante desmistificar o imaginário da "cara-metade". No entanto, há casos em que ser opostos pode funcionar, desde que não seja esse o requisito ou a razão de estar com a outra pessoa, ou seja, reconhecer os aspectos que são opostos, aceitá-los, valorizá-los e colocá-los ao serviço da relação.

"Há casais que conseguem lidar muito bem com essa complementaridade ou sentir-se como a melhor metade do outro, num sentido positivo, não como algo que vivem da escassez, mas da aceitação de que o outro é diferente de mim, com qualidades que eu não tenho e que, portanto, enriquecem a relação", diz Salazar.

Então, metade laranja ou laranja completa?

Daniel Esquivel Photography

Como a melhor metade alude à outra metade, a resposta é que aspirar sempre a ser a laranja inteira Livre-se de crenças irracionais, como a de que a felicidade depende dessa outra parte, e comece a tomar conta das suas próprias fraquezas.

Além disso, os casais não são perfeitos, mas são constituídos por pessoas com características, muitas em comum, mas que também negociam, comunicam e mudam.

"Na verdade, se uma pessoa é muito ativa e a outra muito passiva, chegará um ponto em que, se isso não mudar, a polaridade os esgotará a ambos. E acho que a psicoterapia pode ajudar muito nesse sentido", recomenda o psicólogo Iván Salazar.

Então, se você sente que está preso no mito da metade melhor, recorra a espaços para transformação, autoconsciência, auto-regulação de suas emoções, aprendendo a aceitar o outro e a ouvir atentamente, entre outras ferramentas úteis para casais que procuram ser a laranja inteira e não apenas a metade. Em essência, que estão comprometidos com relacionamentos maduros e saudáveis.

Não se trata de atacar o romantismo, mas sim de fundamentar certos conceitos que valem a pena e que, a longo prazo, podem prejudicar a sua relação. Entre eles, ser claro que você não precisa da outra pessoa para ser feliz, mas que você é feliz por si mesmo, junto com outra pessoa.

Referências

  1. Psicólogo e treinador Iván Salazar

Evelyn Carpenter é a autora do livro best-seller Tudo o que você precisa para o seu casamento. Um guia de casamento. Ela está casada há mais de 25 anos e ajudou inúmeros casais a construir casamentos bem-sucedidos. Evelyn é uma palestrante e especialista em relacionamento muito procurada, e já apareceu em vários meios de comunicação, incluindo Fox News, Huffington Post e muito mais.